Depois de muitas horas de trabalho, de muitos contributos recolhidos nas reuniões efectuadas e no grande arquivo de intervenção passada e do trabalho de síntese feito por alguns elementos do Secretariado, apresenta-se uma PROPOSTA/CONTRIBUTO de documento para ser LIDA, ANALISADA, CRITICADA, decerto MELHORADA ou REJEITADA... (assim que nos chegar o documento da Direcção Nacional do MUSP será aqui publicado).
(todos os contributos para muspsantarem@gmail.com)
PROPOSTA DOCUMENTO do SEC MUSP SANTARÉM
13º. ENCONTRO NACIONAL DE COMISSÕES E
ASSOCIAÇÕES DE UTENTES
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
“PELA DEFESA E MELHORIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS!”
Depois
de anos de ataques fortíssimos, promovidos pelos governos anteriores, ao acesso
a serviços públicos de qualidade e proximidade, o actual enquadramento
político, para o qual contribuíram utentes e populações, revelava-se como um
tempo de esperança. Mas, fruto da aceitação por parte do actual governo dos
condicionalismos impostos pelas políticas europeias e pelos grandes interesses
privados nacionais e internacionais, estamos longe do que utentes e populações
merecem e precisam.
A ACTUAL SITUAÇÃO NOS SERVIÇOS PÚBLICOS
caracteriza-se por:
Na SAÚDE: O SNS apesar dos seus
condicionalismos continua a ser o serviço público mais importante e valioso
para a população portuguesa; no entanto, fruto de anos e anos de
subfinanciamento tem graves problemas ao nível dos recursos humanos. Faltam
médicos e outros profissionais principalmente nos cuidados primários e
hospitalares na Região Lisboa e Vale do Tejo, no Alentejo, no Interior Centro e
Norte e Algarve. Continuam por concretizar a construção anunciada de Centros de
Saúde (estando a avançar só os que têm apoio financeiro europeu e autárquico) e
de hospitais como Évora, Seixal, Sintra e a melhoria de instalações e
equipamentos de outros.
Nos TRANSPORTES: continuam a ser caros, com
pouca qualidade, frequência e coordenação, não correspondendo às necessidades
das populações que se têm de deslocar, como são exemplos gritantes o
Metro/Lisboa, as travessias fluviais do Tejo e as ligações regionais e
interurbanas; em muitas zonas rurais deixou de haver transporte colectivo rodoviário
aos fins-de-semana e fora do período de aulas; mantem-se a falta de
investimento e prossegue uma política de privilégio aos operadores privados,
sem se resgatar concessões para a esfera pública como teria sido possível recentemente
com o Metropolitano do Porto.
Nas ACESSIBILIDADES: A ferrovia não tem
merecido a dinamização necessária por parte das entidades responsáveis; continuam
por concretizar vias rodoviárias estruturantes como no Baixo Alentejo; é
gritante o estado de manutenção e sinalização de muitas das rodovias nacionais
e regionais, potenciando elevados índices de sinistralidade, como é exemplo do
Litoral Alentejano e o Ribatejo; as populações e actividades económicas do
interior e algumas zonas suburbanas continuam a ser castigadas com a
permanência de portagens.
Na EDUCAÇÃO: rede pública de ensino pré-primário
insuficiente; falta de auxiliares; as instalações apesar do esforço dos últimos
anos na construção de centros escolares (o que foi e é motivo de despovoamento
de muitas localidades) e apesar da remodelação de algumas escolas, continua a
ser necessária a manutenção (p.e. remoção do amianto) e a construção de novos espaços
escolares; a externalização de serviços tem graves consequências na manutenção
dos estabelecimentos de ensino e na qualidade das refeições servidas.
Na SEGURANÇA SOCIAL: reconhecendo a
importância relevante e indispensável da segurança social pública e universal
lamenta-se a prevalência de prestações sociais dramaticamente baixas para
grande parte da população; estruturas públicas insuficientes para as populações
mais carenciadas e grupos de risco.
Na ÁGUA e SANEAMENTO: a distribuição de
água de qualidade a quase toda a população portuguesa é uma das grandes
conquistas do poder local democrático. Já o saneamento ainda falta numa grande
parte do território. A politica de privatizações no sector levou a preços
elevadíssimos para os utentes e com os serviços a baixarem de qualidade, pondo
em causa a saúde pública em algumas regiões.
Nos CTT e TELECOMUNICAÇÕES: Com os CTT privatizados está em causa a
universalidade, a confidencialidade e a distribuição diária no serviço postal.
Os carteiros são poucos, muitos precários e com pouca formação. Encerramento de
estações e postos CTT, optando-se em alguns casos por contratualizações
(leoninas) com autarquias, particulares e instituições sociais. Continua a
haver populações sem acesso ao serviço TDT e a telecomunicações de qualidade,
concretamente voz e banda larga.
Na JUSTIÇA: o preço das custas judiciais
continua a dificultar o acesso de muitos cidadãos aos respectivos serviços. O
processo de isenção de custas não está facilitado para quem a ele recorre.
Muito embora, tenham reaberto e sido reajustada a competência de alguns tribunais,
estes continuam com graves carências de meios humanos, equipamentos e
instalações condignas.
Nas ENERGIAS: preços elevados, dos mais caros
a nível europeu; gaz de botija com preços muito acima do valor do serviço;
electricidade fornecida, em muitas zonas, em condições técnicas deficientes às
empresas e às famílias;
No AMBIENTE: focos de poluição hídrica nas
principais bacias hidrográficas, como a do Tejo; episódios permanentes de
poluição atmosférica grave em muitas regiões por acção de empresas que não
cumprem a legislação ambiental;
Nos SERVIÇOS FINANCEIROS: Com a crise financeira, que precedeu a crise social
e económica, para além do aumento do custo dos serviços e a criação de “taxas e
taxinhas” (p.e. anuidades dos cartões bancários), vieram o encerramento de
agências, a dispensa de muitos trabalhadores, a localização anacrónica de
caixas de multibanco e ultimamente a redução de horários de agências da CGD,
afectando as populações e as actividades económicas existentes.
Na SEGURANÇA PÚBLICA e PROTECÇÃO CIVIL: às
forças de segurança faltam recursos humanos e meios para policiamento eficaz,
preventivo e de proximidade; na protecção civil em vez de prevenção e acção
pedagógica actua-se depois dos acontecimentos revelando-se a escassez de meios
para resolver as necessidades das populações.
Na CULTURA e INFORMAÇÃO: Há um evidente
subfinanciamento do sector e um privilégio para as actividades de carácter
recreativo; o divertimento suplanta a produção cultural e a formação de
públicos; desvalorização de grande parte
do património imaterial e edificado; a informação é cada vez mais opinião
tendenciosa com claros objectivos politico partidários minorando as iniciativas
populares em defesa dos seus direitos.
Em
conclusão, o momento actual caracteriza-se por subfinanciamento, redução da
qualidade e proximidade, continuação de peso excessivo dos privados e de ténue
recuperação das condições de quem trabalha nos serviços públicos.
OS
UTENTES PROPÕEM E REIVINDICAM:
Defender os serviços públicos é exigir a gestão pública dos diversos serviços, recusando as privatizações e
concessões.
Na SAÚDE: um melhor Serviço Nacional de Saúde, nos seus
vários níveis de proximidade na prestação de cuidados, com uma eficiente
articulação entre si, complementados com uma reforma hospitalar com os
profissionais e meios técnicos necessários; recusa das PPP; abolição das taxas
moderadoras; fim da promiscuidade entre público e privado; recusa de deslocação
das farmácias das zonas rurais para as zonas urbanas; reforço da actividade das
unidades de saúde pública na promoção de boas práticas com vista à redução das
dependências e consequentemente ganhos em saúde.
Nos TRANSPORTES: investimento em equipamentos;
melhoria e enquadramento regional dos passes; coordenação entre os diversos
operadores e modalidades de transporte colectivo; valorização da ferrovia;
reforçar a frequência do transporte colectivo de passageiros todos os dias e em
todo o território nacional; reversão
para o sector público das concessões de transportes; os transportes urbanos nas
pequenas e médias cidades, na generalidade, têm sido um serviço positivo para
as suas populações.
Nas ACESSIBILIDAES:…. Abolição das
portagens nas vias estruturantes sem alternativas viáveis; melhoria da
circulação urbana e em espaço público para veículos e peões; plano de
construção de vias rodoviárias estruturantes; manutenção urgente na revê viária;
valorização da ferrovia.
Na EDUCAÇÃO: aumentar a rede pública
pré-escolar; reforço das estruturas de apoio a famílias com filhos em idade
escolar; mais profissionais nas escolas; melhorar as instalações e recusar (até
ao limite) encerramento de estabelecimentos escolares.
Na SEGURANÇA SOCIAL: garantir a segurança
social pública e universal; actualização extraordinária anual das pensões mais
baixas; reforçar o apoio às populações carenciadas e a grupos de risco;
Na ÁGUA e SANEAMENTO: propriedade e gestão
pública de todo o sector e prática de preços que se ajustem aos rendimentos das
famílias;
Nos CTT e TELECOMUNICAÇÕES: Cobertura de
todo o território nacional de telecomunicações de qualidade; controle público
do serviço estratégico da distribuição postal e de telecomunicações.
Nas ENERGIAS: redução do preço do gás de botija e da da factura da energia eléctrica.
No AMBIENTE: acção eficaz dos serviços
competentes junto das fontes poluidoras; recupareração ambiental do Tejo e
afluentes.
Nos SERVIÇOS FINANCEIROS: as instituições financeiras
serviços de proximidade, principalmente o serviço público bancário da CGD; recusa
de aumento de novas taxas, como a que querem aplicar nas caixas multibanco.
Na SEGURANÇA PÚBLICA e PROTECÇÃO CIVIL:
Na CULTURA e INFORMAÇÃO: valorização do
património edificado, cultural e natural; apoio à produção cultural como
defende o movimento “1% para a cultura”; políticas de informação que respeitem
a isenção e o interesse das populações, reforçando a sua acção pedagógica.
Na DESCENTRALIZAÇÃO: Não devem ser atribuídas novas competências às
autarquias sem medidas prévias e paralelas de âmbito financeiro e de
organização, priorizando a eliminação urgente de carências, em particular de
meios humanos, técnicos, de infraestruturas e equipamentos. O financiamento de novas competências deve
observar o princípio constitucional da justa repartição dos recursos do Estado
e assegurar condições de estabilidade na sua aplicação.
Uma descentralização de competências implica a
recuperação de condições organizacionais, materiais e humanas retiradas às
autarquias e o respeito pela autonomia do Poder Local, sendo fundamental a
reposição das freguesias existentes até 2013.
Nas POLÍTICAS LABORAIS: Manifestar gratidão aos trabalhadores que “vestem a
camisola” do Serviço Público. Eles, com a sua disponibilidade, o seu saber e o
seu espírito de sacrifício, contribuem para serviços públicos de proximidade e
qualidade, valorizando a qualidade de vida dos cidadãos. Apoiar as
reivindicações dos trabalhadores para melhorar a proximidade e qualidade dos
serviços públicos. Apoiar a sua luta pela melhoria das suas condições de
trabalho e contratuais.
O MUSP,
Movimento de utentes dos serviços públicos
A
actividade e as lutas desenvolvidas
Foram centenas as lutas das populações e das suas
estruturas de utentes em defesa de serviços públicos de proximidade e
qualidade. Assumindo as mais diversas formas e projecção mediática, a luta dos
utentes alcançou resultados práticos (infelizmente mais anúncios que obra
concretizada), principalmente na área da saúde e nas acessibilidades.
São exemplos dessas acções: contra o encerramento de
extensões de saúde (Adémia/Coimbra); pela colocação de médicos (Penalva
Castelo/Viseu; Marinha Grande/Leiria; Rio Maior/Santarém); pela reabertura de
urgências hospitalares (Ovar/Aveiro); pela construção de unidades hospitalares
(Évora, Seixal/Setúbal, Sintra/Lisboa); pelo bom funcionamento dos hospitais
(Algarve, Santarém; Litoral Alentejano); pela melhoria dos transportes públicos
(Lisboa, Margem Sul, Porto); pela valorização da ferrovia
(Entroncamento/Santarém; Lousã/Coimbra; Caldas Rainha/Leiria); pela melhoria
das acessibilidades (Covilhã/C Branco; Litoral Alentejano; Soure/Coimbra;
Silves/Faro; Póvoa Varzim/Porto); contra a poluição atmosférica e hídrica
(Alcanena, T. Novas, Ferreira, Abrantes/Santarém).
REFORÇAR A ORGANIZAÇÃO
Comissões e Associações de Utentes
Criadas na base problemas e situações concretas, as comissões
e associações de utentes são a base do Movimento de utentes e a sua razão de
existir.
Partindo normalmente de situações e problemas em concreto,
algumas comissões evoluíram para o acompanhamento de todas as situações
relacionadas com os serviços públicos de determinada localidade, concelho ou
região.
Com formas de organização diferentes, abarcando serviços
distintos, as comissões de utentes têm sido em muitos locais o garante da
defesa dos serviços públicos e da universalidade do seu serviço.
A necessidade de alargar a luta e a intervenção das populações na defesa
dos serviços públicos reclama a criação de mais comissões de utentes, alargando
os sectores em que intervêm e assegurando uma actividade regular. As Comissões
de Utentes devem reunir regularmente na base da transparência e na participação
democrática, abrindo as portas a quem queira participar, privilegiando o
trabalho colectivo, sendo fundamental dar conhecimento público das suas
propostas, análises e das suas iniciativas. Estas, na sua acção devem
privilegiar o contacto directo com as populações nos seus diversos locais de
residência, no comércio local, junto das empresas, nos mercados, para a
resolução dos problemas concretos das populações.
Considerando a necessidade de melhorar e potenciar o
desenvolvimento do trabalho das comissões propõe o MUSP a criação de estruturas
regionais que possam permitir um trabalho articulado das diversas comissões
nessa região, uma discussão mais profunda das soluções e acima de tudo a defesa
de políticas regionais como no caso dos transportes públicos e na saúde.
Direcção do Movimento de utentes
Para o mandato que hoje se inicia propõe-se a
manutenção da Direcção do MUSP em molde idênticos, devendo a mesma reunir no
mínimo 4 vezes por ano, podendo ser descentralizadas ou realizadas em várias
localizações. Devem ser criados
mecanismos claros e objectivos que promovam e estimulem o trabalho colectivo e
regular de todos os membros da Direcção.
Por impossibilidade ou
ausência prolongada, os membros da Direcção poderão ser substituídos depois de
ouvidas as estruturas do movimento de utentes.
A Direcção elegerá o Grupo Permanente que
será composto por um mínimo de sete elementos de entre os que compõem a
Direcção.
O grupo permanente
reunirá, pelo menos, mensalmente, devendo dar nota aos restantes membros da
Direcção das suas decisões e actividade desenvolvida. Os membros do Grupo Permanente devem fazer a distribuição de tarefas e
acompanhar todos os elementos da Direcção em todo o território nacional. Poderão
ser criados grupos de trabalho sectoriais ou regionais para acompanhar, de
forma permanente ou ocasional, as iniciativas do movimento de utentes e/ou a
evolução das condições de prestação dos serviços públicos.
O MUSP deve manifestar a sua autonomia com
propostas e iniciativas próprias e inovadoras, se possível em coordenação com
outras entidades que defendem os mesmos objectivos.
A actividade da Direcção do MUSP, dos núcleos
regionais e das comissões e associações
que compõem o Movimento de utentes tem necessariamente que ser alvo de uma
melhoria substancial no que respeita à divulgação da actividade das mesmas
sendo necessário proceder à reactivação do blog do movimento, dinamização da
página de facebook e criação de site próprio onde a actividade das comissões de
utentes e do MUSP esteja presente.
INICIATIVAS
Promover
a nível nacional (em Janeiro e Fevereiro/2019) uma campanha, em moldes a
definir, de defesa e valorização do Serviço Nacional de Saúde.
Apresentar
as propostas e reivindicações dos utentes a todas aos Órgãos de Soberania e às
mais importantes entidades públicas e privadas prestadoras de serviços
públicos.
Reforçar
desde já as acções de defesa e melhoria dos serviços públicos, que podem
assumir a forma de reuniões públicas, reuniões com entidades, acções com
movimento sindical e autarquias, elaboração e distribuição de documentos,
abaixo-assinados, petições, concentrações, conferências de imprensa, roteiros…
Realização
de debates temáticos e regionais sobre os diversos sectores de serviços
públicos.
Os
utentes dos serviços públicos precisam do MUSP, como estrutura nacional
interventiva e reivindicativa, mas igualmente mobilizadora com o objectivo de
construir uma sociedade mais justa. Cada vez mais o movimento de utentes tem de
vencer desafios e afirmar as potencialidades da sua intervenção política e
social.
Entroncamento, 25 de Novembro 2015
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