domingo, 5 de novembro de 2023

OPINIÃO (de Eugénio Rosa): SNS e a proposta de ORÇAMENTO ESTADO 2024

 

 

O SNS CORRE GRAVE RISCO DEVIDO À FALTA DE MÉDICOS. PORTUGAL É UM DOS PAISES DA U.E. EM QUE O ESTADO MENOS GASTA POR HABITANTE COM A SAÚDE E ONDE A DESPESA DAS FAMILIAS MAIS AUMENTOU. COSTA E MEDINA IGNORAM QUE MUITAS DOENÇAS QUE ANTES ERAM FATAIS, AGORA SÃO DOENÇAS CRONICAS OU ONDE É POSSIVEL A SOBREVIDA, MAS QUE EXIGE MAIS EXAMES, MEDICAMENTOS E CIRURGIAS, E TAMBÉM MAIS TEMPO MÉDICO

Na sua campanha para justificar a recusa em garantir a recuperação do poder de compra das remunerações dos profissionais de saúde e, nomeadamente, dos médicos cuja remuneração média base líquida perdeu, entre 2011 e 2023, mais 30% do seu poder de compra segundo dados da própria DGAEP, Costa/Medina/Pizarro tem multiplicado declarações em que revelam, deliberadamente ou não, ignorância. Segundo eles “o problema do SNS não é a falta de dinheiro, mas sim de organizaçãocomo isso fosse a verdade única, absoluta e inquestionável. Talvez porque estejam convencidos que uma mentira repetida muitas vezes transforma-se numa verdade, ou há quem acredite nela. Como então se explica que em setembro de 2023, a divida do SNS a fornecedores privados atingisse o enorme valor de 2303,2 milhões € e se possa dizer que o problema do SNS não é a falta de dinheiro? Mas a verdade é que a situação grave que vive atualmente o SNS resulta das duas – subfinanciamento crónico e falta de organização - mas sem dinheiro a reorganização do SNS não será possível. No seu ataque aos médicos, com o objetivo de virar a opinião pública contra eles, Costa/Medina/Pizarro partem de um pressuposto errado que revela ou ignorância ou má-fé e que é o seguinte: nada mudou na área da saúde, os atos medicos realizados atualmente são os mesmos e de idêntica forma como se realizavam há 15, 10 ou 8 anos atrás. Para eles a saúde é uma realidade estática. Isto é uma grande mentira, pois quem conheça minimamente a realidade na área da saúde, e seja honesto, sabe bem que todos anos se registam alterações na forma de tratar a doença. Doenças que antes eram fatais quase no imediato, como as leucemias (mieloide e linfática), os mielomas múltiplos, muitos linfomas, os cancros da mama, de pulmão e muitos melanomas malignos, na cardiologia de intervenção (angioplastias), na eletrofisiologia, na insuficiência cardíaca , etc., etc., estas doenças quase imediatamente fatais, agora com a aplicação de novos medicamentos e dispositivos médicos tornaram-se doenças crónicas ou é possível prolongar a vida por mais anos (sobrevida). Mas isso “consome” mais consultas, mais exames, mais dispositivos médicos, mais cirurgias complexas, mais tempo de medicos. Quem acompanhe de perto a evolução nesta área, como tive a oportunidade nos 5 anos no conselho diretivo da ADSE, apercebe-se rapidamente das profundas alterações que se verificam todos anos nas tecnologias de saúde (medicamentos, dispositivos médicos, etc.) e nos procedimentos cirúrgicos (a generalização de procedimentos minimamente invasivos, a utilização crescente da robótica, etc.) com menos danos para os doentes e com períodos de recuperação muito mais curtos, mas que exigem dos medicos mais competências e mais tempo por doente. Só assim foi possível no nosso país aumentar muito a esperança de vida à nascença (entre 1975 e 2022, de 68,4 anos para 80,96 anos) e reduzir muito a mortalidade infantil (entre 1975 e 2022, diminuiu de 10,8 para 2,6 por mil), obtendo enormes ganhos de saúde, verdadeiras conquistas civilizacionais. E tudo isto está agora em risco devido a falta de profissionais de saúde no SNS, nomeadamente de médicos. Comparar o orçamento do SNS de 2015 com o de 2023 como faz Costa/Medina/Pizarro e concluir que o problema não é falta de dinheiro, partindo do pressuposto na prestação de cuidados de saúde nada se alterou, revela ignorância ou o propósito de enganar os portugueses.

A DESPESA PÚBLICA DE SAÚDE POR HABITANTE EM PORTUGAL CONTINUA A SER INFERIOR À DE MUITOS PAISES DA U.E.

Contrariamente ao que Costa/Medina/Pizarro pretende fazer crer, a despesa publica corrente com saúde por habitante no nosso país continua a ser muito inferior à de muitos países da U.E. como revelam os dados da OCDE.

 

 Em 2022, a despesa publica corrente com saúde por habitante em 10 dos 11 países do quadro era superior à registada em Portugal entre 1,3 vezes e 3,6 vezes, apenas com exceção da Grécia pelas razões conhecidas (troika).E os valores de Portugal ainda devem estar empolados, pois na despesa publica está indevidamente incluído a despesa dos subsistemas como a ADSE, que é despesa privada, já que ela é na totalidade financiada pelos beneficiários (desconto de 3,5% sobre os salários dos trabalhadores da Função Pública e sobre as pensões dos aposentados; em 2022, 703 milhões € e, em 2023, 735 milhões €). E apesar desse empolamento o aumento da despesa pública corrente com saúde por habitante entre 2015 e 2022 foi inferior à da maioria dos países do quadro (em 8 de 11), portanto Portugal no lugar convergir está também a divergir mesta área. E se dividirmos a despesa corrente constante do orçamento do SNS para 2024 pelo número de habitante ainda dá um valor inferior, pois é apenas 1380€ per capita, portanto a situação não muda. Eis a verdade sobre aumento enorme do orçamento do SNS de que falam Costa/Medina/Pizarro.

 


Entre 2015 e 2022, ou seja, durante os governos de Costa, Portugal, em todos os anos, foi o país, com exceção da Grécia, que menor parcela do PIB (riqueza criada anualmente) investiu na saúde dos seus cidadãos (em média menos de 6,2% do PIB). Embora a % tenha aumentado neste período (de 5,8% para 6,7%), ela continua inferior à maioria dos outros países. E o investimento em saúde é fundamental para garantir não só o bem-estar da população, mas também para assegurar o aumento da produtividade indispensável ao crescimento económico e ao desenvolvimento do país.

 


Entre 2011 e 2023, o poder de compra da remuneração base (RBMM) LIQUIDA dos medicos diminuiu 26,1% e mesmo fazendo milhões de horas extraordinários o ganho médio mensal (GMM) LIQUIDO diminuiu 23,2%. O governo ao esmagar as remunerações nos médicos, e a recusar a recuperação do poder de compra perdido estará, objetivamente, a expulsar mais medicos do SNS, a destruir este, a promover o negócio privado da saúde, e a dificultar ainda mais o acesso a serviços de saúde da maioria dos portugueses, agravando mais as suas já difíceis vidas. E tudo isto para reduzir freneticamente a divida publica a que Marcelo também deu a sua bênção em declarações públicas.


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