Os ambientes
Diz-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Perante a lamentável e condenável notícia de centenas de animais de caça grossa, mortos, exibidos como troféus dos prazeres da burguesia endinheirada, muitos se questionaram sobre o significado de tal acto, nem sempre concluindo correctamente.
Importará registar três lições para memória futura.
A primeira, a de que ali está a confirmação do que dissemos quando nos queriam, e querem, vender a teoria do princípio do poluidor pagador para defender o ambiente e a sustentabilidade dos recursos.
Se para ter direito a poluir bastar apenas pagar, por muito dinheiro que isso signifique, haverá sempre quem pague. Quem pague para fazer mortandades de veados e javalis, mesmo que se trate de valores obscenos, para poluir um rio, ou para se livrar de lixos tóxicos.
A segunda é que tal situação, que nada tem a ver com a prática ancestral de caça no nosso país, só foi possível porque as alterações à lei da caça, a pretexto da defesa das espécies, privilegiando as coutadas de caça e restringindo quase na totalidade a caça livre, têm tido como único objectivo assegurar às camadas mais abastadas o direito a divertirem-se, pagando para isso, num caminho de privatização do espaço público, enquanto se afastam as camadas populares da caça e, aos aldeões, se reserva apenas o papel de adereço do mundo rural, sem direito a usufruir dos espaços que os viram nascer e crescer.
A terceira é que o rocambolesco processo agora vindo a público que deveria levar à instalação de uma central fotovoltaica, onde se insere o triste episódio do abate de centenas de animais – relativamente ao qual, como de costume, os proprietários da herdade, dizem nada conhecer –, dá bem a dimensão do embuste em que querem que acreditemos sobre as supostas vantagens da energia "verde". Para instalarem uma central de produção de energia dita mais amiga do ambiente, ocupar-se-iam 700 hectares de terras férteis, que tanto podiam estar florestadas, produzindo oxigénio e lenhas, como cultivadas.
Já dizia o outro, vai-te ganho, que me dás perda.
João Frazão
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