População de Parceiros de Igreja exige solução para “poluição ambiental” e ASAE anuncia fecho da fábrica. Foto: mediotejo.net

“As pessoas têm toda a razão para terem este sentimento, para estarem indignadas, insatisfeitas e ansiosas pela resolução de um problema ambiental mas também de saúde pública”, disse o vereador João Trindade, que esteve reunido na aldeia com cerca de 60 populares a quem transmitiu a informação de que a Cratoliva, uma fábrica local de processamento de bagaço de azeitona, havia sido alvo de uma “inspeção musculada”, com várias entidades, tendo indicado ser “necessário aguardar pelo relatório” final “para se tomarem decisões em conformidade”, e que pode passar pelo fecho ou por investimentos.

João Trindade, que detém o pelouro do Ambiente no município de Torres Novas, disse à Lusa, após a reunião com a população, que o problema “deriva de uma fábrica de processamento de bagaço de azeitona”, que, “nos períodos em que está a laborar com mais intensidade, emite um forte odor, um cheiro insuportável, ficando a aldeia como que envolta em nevoeiro”, situação que, notou, “já não sucedia desde 2021” e que regressou este ano.

População de Parceiros de Igreja exige solução para “poluição ambiental” e ASAE anuncia fecho da fábrica. Foto: mediotejo.net

Além disso, destacou, no final de uma reunião onde ouviu a população durante cerca de duas horas, “há a questão da emissão de partículas, que se depositam nas piscinas, nos terraços, nos estores das janelas e nas roupas, e as pessoas queixam-se e queixam-se com propriedade”.

ÁUDIO | JOÃO TRINDADE, VEREADOR DO AMBIENTE CM TORRES NOVAS:

A reunião de quinta-feira, que encheu o antigo Clube Recreativo de Parceiros de Igreja, decorreu depois de há três semanas a população ter-se deslocado em peso à Assembleia Municipal para denunciar um problema que afirmaram ser “de saúde pública” e que colocava em causa o próprio “respirar” na aldeia, onde habitam cerca de 900 pessoas, tendo o vereador assegurado então uma resposta célere e novidades no espaço de duas semanas.

Margarida Livramento, de 20 anos, foi quem se dirigiu à assembleia municipal torrejana e falou em nome dos habitantes da aldeia para expor um problema “que não é só ambiental, mas também de saúde pública” e que tem afetado esta localidade ao longo dos últimos meses.

“A empresa Cratoliva sita nesta localidade, processa óleo alimentar refinado e decorrente da sua atividade exaustiva. Por causa deste problema, emite um odor nauseabundo e substâncias negras que se depositam nos telhados e terraços das aldeias próximas de Parceiros de Igreja”, denunciou, tendo indicado denuncia dos populares à SOS Ambiente da GNR, para um problema que está a “perturbar severamente a população”, que sofre já de “inúmeros problemas respiratórios”, além de “diversos casais novos a abandonar as suas habitações”.

A população de Parceiros de Igreja deslocou-se à Assembleia Municipal de máscara, numa “tentativa de ilustrar a dificuldade que temos em sair à rua, com o cheiro nauseabundo e as partículas que se depositam nos nossos pulmões”, tendo declarado ao mediotejo.net que a população foi denunciar o problema e perguntar saber quais os apoios que o município e o Estado podem dar para resolver este problema, numa época em que as alterações climáticas e a poluição são um assunto cada vez mais na ordem do dia”.

ÁUDIO | MARGARIDA LIVRAMENTO, CIDADÃ DE PARCEIROS DE IGREJA:

O presidente da Assembleia Municipal de Torres Novas, José Trincão Marques, afirmou, na sequência da intervenção de Margarida Livramento e de outros populares, que este é um “problema gravíssimo” do ponto de vista ambiental. “O problema que salta mais à vista é o problema da qualidade do ar, com partículas ou sem partículas”.

Tendo por base a Constituição da República Portuguesa (CRP) e a legislação em vigor, afirma que estas defendem a qualidade da vida das pessoas e a qualidade do ar. “O artigo nº66 da CRP diz claramente que todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e todos nós temos o dever de o defender”, afirma.

“Vocês têm toda a razão do ponto de vista moral, mas também do ponto de vista legal. (…) Eu estou a 200% nesta causa. (…) Devemos defender o nosso planeta, aqui no nosso concelho mais dever temos nós. Podem contar comigo, na qualidade de cidadão, na qualidade de presidente desta Assembleia”, afirmou Trincão Marques, para quem as “empresas poluidoras não são bem vindas em Torres Novas”.

Na noite de quinta-feira, dia 18 de julho, decorreu a reunião planeada na aldeia, com o vereador do Ambiente a fazer u ponto de situação à população. “Não foi em duas semanas mas foi em três”, disse João Trindade, num processo desencadeado pelo município com a ida da população à Assembleia Municipal no final de junho, e que “culminou com uma inspeção da Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE), na semana passada”, e, na quarta-feira, 17 de julho, com uma ação inspetiva de várias equipas e departamentos municipais, a par de entidades como a autoridade de saúde, GNR, e Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”, entre outras.

“É um processo legal que tem de se fazer porque não podemos tomar nenhuma decisão sem estar devidamente fundamentada com pareceres técnicos e jurídicos”, notou Trindade, tendo indicado que “a vistoria à fábrica vai culminar num relatório” do qual disse esperar que “resulte em consequências” para o alegado infrator.

“Algo tem de ser feito e algo tem de mudar, para bem do ambiente e da saúde das pessoas”, declarou.

Nesse sentido, o responsável disse na quinta-feira à população que a ação inspetiva era um “sinal de esperança”, tendo pedido “algum tempo para as autoridades elaborarem o relatório e ver se a fábrica muda”, tendo agendado nova reunião na aldeia para o início de setembro, e apelado à população que “não deixe de exercer pressão e de reivindicar os seus direitos”.

O presidente da União de Freguesias de Brogueira, Parceiros de Igreja e Alcorochel, Manuel Carvalho Júnior, assegurou à Lusa que a população vai “esperar pelo resultado da inspeção, aguardar se há investimentos e ver se o problema se resolve”, tendo feito notar, no entanto, que as pessoas “não vão baixar os braços” perante um problema que afirmou ser “muito grave”, não só “para as pessoas de Parceiros de Igreja mas também para aldeias vizinhas, onde também chegam as partículas e os maus odores” emitidos pela fábrica.

“Com este odor não se consegue viver aqui porque a empresa não se atualizou e está a laborar como há 100 anos. Nós não vamos baixar os braços, de certeza absoluta, e se alguém vai ter de ir embora é a empresa, não as pessoas”, vincou.

ÁUDIO | MANUEL CARVALHO, PRESIDENTE UF FREGUESIAS:

ASAE apreende 18.200 litros de óleo alimentar em indústria de Torres Novas

As novidades chegaram mais depressa do que se esperava, com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) a anunciar esta sexta-feira a apreensão de 18.200 litros de óleo alimentar, com um valor superior a 57.420 euros, numa indústria no concelho de Torres Novas, que não especificou, mas que o mediotejo.net sabe que foi a fábrica da Cratoliva, instalada na aldeia, e que vai ao encontro da informação prestada pelo vereador relativamente a uma vistoria efetuada a semana passada pela ASAE.

Lagar centenário foi adquirido há dois anos por empresa alentejana e esteve parado até ao último verão. Foto arquivo: mediotejo.net

Em comunicado, a ASAE adianta que a apreensão foi feita no âmbito da operação de fiscalização “Oliva” a uma indústria de extração e refinação de óleos vegetais, com embalamento de óleos e azeites, no concelho de Torres Novas.

No âmbito da ação foi instaurado um processo-crime por suspeita de fraude sobre mercadorias e, ainda, efetuada a apreensão de 18.200 litros de óleo alimentar e 177.690 rótulos com menção de azeite.

De acordo com a ASAE, existem “fortes suspeitas de que este óleo alimentar iria ser comercializado como azeite”.

A ASAE adianta que foi instaurado um processo de contraordenação por deficiência das condições de higiene e estruturais, tendo sido determinada a suspensão imediata da atividade.

C/Jéssica Filipe (in mediotejo.net)