segunda-feira, 10 de junho de 2024

Nos 500 anos do poeta LUIS DE CAMÕES

 QUANTA INCERTA ESPERANÇA, QUANTO ENGANO!

Quanta incerta esperança, quanto engano!
Quanto viver de falsos pensamentos,
pois todos vão fazer seus fundamentos
no mesmo em que está seu próprio dano!
Na incerta vida estribam de um humano;
dão crédito a palavras que são ventos;
choram depois as horas e os momentos
que riram com mais gosto em todo o ano.
Não haja em aparências confianças;
entendei que o viver é de emprestado;
que o de que vive o mundo são mudanças.
Mudai, pois, o sentido e o cuidado,
somente amando aquelas esperanças
que duram para sempre com o amado.

Luís Vaz de Camões (1524/5-1580)
in 'Sonetos', 1975 [1595]



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