No desperdiçar está o ganho
Margarida BotelhoA SIC divulgou na semana passada uma reportagem sobre o consumo de água em Paços de Ferreira em que denunciava uma prática de incentivo ao desperdício a todos os títulos inaceitável. O tarifário em vigor prevê um consumo mínimo de mil litros de água por mês. Quem não alcançar essa quantidade de água paga 40 euros. Quem consumir mais, tem desconto.
A reportagem mostrou diversos casos de consumidores que, por não gastarem os tais mil litros, se viam na situação de terem que deixar a água a correr, para alcançar um nível de consumo que lhes permitisse pagar menos: pequenos comerciantes, consumidores domésticos, casas de emigrantes, foram vários os relatos de quem desperdiçou água para poupar na factura ao fim do mês.
O caso tem muito que se lhe diga. A própria reportagem referia o absurdo da situação, num contexto em que o inverno especialmente seco que atravessamos reforça a necessidade de uma gestão criteriosa da água disponível.
Mas há mais ângulos de onde olhar para esta situação. Um, incontornável, é que a água em Paços de Ferreira está privatizada desde 2004, data em que foi concessionada a uma empresa do grupo AGS. À época, a Câmara Municipal, gerida pelo PSD, anunciou um aumento de mais de 30% na tarifa da água. 18 anos passados, com o PS há dois mandatos à frente da autarquia, Paços de Ferreira mantém a água concessionada, com uma das tarifas mais caras do país e com este «consumo mínimo» em vigor.
O outro ângulo, que também entra pelos olhos dentro, é o da irracionalidade de um sistema que, por se basear na busca permanente de lucro e mais lucro, promove o desperdício de um bem público, precioso e escasso como a água. Um sistema que tem um nome, capitalismo, e não traz nada de novo, nem pinga de verde.
Numa altura em que os «liberais» se tentam apresentar como se fossem do mais moderno e eficiente que há, é útil conhecer casos como este. Para os corrigir depressa e não os repetir. Para garantir que a água é sempre pública, e que ninguém se esquece que o capitalismo não é mesmo nada verde.
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