sábado, 20 de novembro de 2010

Cerca de três mil utentes do concelho da Chamusca não têm médico de família


Os problemas nos cuidados de saúde no concelho da Chamusca continuam a agravar-se. Segundo uma estimativa feita pelo Partido Comunista e avalizada pelas autarquias do concelho, existem cerca de três mil utentes sem médico de família e uma grande parte deles sem qualquer possibilidade de acesso a cuidados de saúde.


A situação foi apresentada e discutida numa sessão efectuada na Chamusca, pelo deputado do PCP António Filipe no dia 18 de Novembro. A sessão realizou-se após um dia de contactos com a Comissão de Utentes de Saúde da Freguesia de Vale de Cavalos, Unidade de Saúde Familiar da Chamusca e Câmara Municipal da Chamusca.


As preocupações dos comunistas aumentaram substancialmente depois destes contactos e dos testemunhos dados por alguns dos elementos das comissões presentes no encontro. E António Filipe garantiu que vai continuar audições noutros concelhos do distrito para apresentar a situação na Assembleia da República.



Nos testemunhos apresentados, ficou bem patente que as pessoas mais necessitadas de apoio médico têm receio de reclamar. “Temem represálias que as deixem ainda mais vulneráveis”, disse um elemento da Comissão de Utentes de Vale de Cavalos, acrescentando que na sua freguesia se voltou ao antigamente. “Há pessoas a irem dormir e a levarem farnel para a porta da extensão de saúde para conseguirem uma consulta”, garantiu explicando que apenas dois dias por semana ali vai um médico dar consultas durante a tarde. “São médicos contratados a uma empresa e não sabemos até quando isto durará”, disse com preocupação.


Mais grave é a situação nas freguesias do Chouto e da Parreira. Ali não há médico desde o dia 21 de Outubro e as pessoas que necessitem de consulta normal só têm uma solução que é esperar pelo fim-de-semana para irem à Chamusca ao Atendimento Complementar, que só funciona nesses dias.


O presidente da Junta de Freguesia do Chouto, João Gabriel Rodrigues, foi bastante cáustico em relação a essa situação. “Temos uma população muito envelhecida e a viver de reformas muito baixas. Não existem transportes públicos ao fim-de-semana. Pergunto aos iluminados da saúde do distrito como é que as pessoas se podem deslocar. Infelizmente o que se vê é que vão morrendo aos poucos sem assistência”, disse com tristeza.


Por outro lado, João Gabriel acabou também por criticar a sua força política, o PCP.


“Sempre que se fala de uma solução para esta situação, fala-se na Parreira. O Chouto, que é a freguesia maior e com a população mais dispersa, é esquecida até pela própria força política a que pertencemos”.



Houve ainda testemunho do familiar de uma pessoa que faz quimioterapia no Hospital de Santarém que viu a administração daquela unidade de saúde cortar o acesso ao transporte. “Até agora tenho conseguido fazer o transporte do meu familiar, um transporte que não é de modo algum o indicado. Depois de uma sessão de quimioterapia, fica muito debilitada, devia ser transportada de ambulância”, disse. Acrescenta ter conhecimento que, devido ao corte ao acesso a transporte, há pessoas que deixaram de fazer o tratamento por não se poderem deslocar.



No encontro com a USF - Unidade de Saúde Familiar da Chamusca, a funcionar desde dia 1 de Outubro, o deputado comunista foi informado que o problema é a falta de médicos. O protocolo assinado com a tutela aponta para um quadro de sete médicos, neste momento apenas quatro estão ao serviço. “A USF tarda em entrar em velocidade de cruzeiro e pelo que ouvimos não se sabe sequer quando é que estará completa. Até lá as três mil pessoas vão ficar desprotegidas”.

in O MIRANTE.

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