quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Opinião: Como se brinca em Portugal?

 


Margarida Botelho

A Es­cola Su­pe­rior de Edu­cação de Coimbra, o Ins­ti­tuto de Apoio à Cri­ança e o site Es­trelas e Ou­riços re­a­li­zaram, pela se­gunda vez, um inqué­rito a pais sobre a forma como as cri­anças até aos dez anos brincam. O pri­meiro tinha sido re­a­li­zado em 2018 e as con­clu­sões do se­gundo foram apre­sen­tadas no dia 24.

Apesar dos 1600 in­qui­ridos não serem uma re­pre­sen­tação ri­go­rosa da po­pu­lação – 91,4% são mu­lheres, 85,5% são ca­sados ou vivem em união de facto, 70% tem ha­bi­li­ta­ções aca­dé­micas ao nível do en­sino su­pe­rior –, os re­sul­tados re­velam dados in­te­res­santes.

O es­tudo re­fere que, apesar de au­mentar a cons­ci­ência de que brincar é es­sen­cial ao cres­ci­mento har­mo­nioso, há um de­crés­cimo do tempo de brin­ca­deira nos úl­timos quatro anos, e os pais in­qui­ridos con­si­deram que as cri­anças não brincam tempo su­fi­ci­ente. Como obs­tá­culos a brincar mais, 35,7% dos pais aponta a «falta de energia de­vido à ele­vada carga de tra­balho diária», e 29,8% os «ho­rá­rios in­com­pa­tí­veis com o tempo livre das cri­anças». 70% das cri­anças brinca nor­mal­mente em casa, apenas 9,2% brinca ao ar livre e, desde 2018, pas­saram a brincar menos com ou­tras cri­anças, e mais so­zi­nhas e com a fa­mília. 30,9% das cri­anças têm apa­re­lhos elec­tró­nicos pró­prios – ta­blets ou smartphones – e 39,2% usa vi­de­o­jogos re­gu­lar­mente.

Estes dados com­provam os alertas que têm sido feitos re­la­ti­va­mente à vida das cri­anças, in­dis­so­ci­a­vel­mente li­gada às con­di­ções de tra­balho dos pais. Re­duzir os ho­rá­rios de tra­balho e com­bater os ho­rá­rios sel­va­gens é de­ter­mi­nante para acabar com o facto de, em média, as cri­anças até aos dez anos es­tarem 10 horas nas cre­ches e nas es­colas. Mais do que uma jor­nada de tra­balho «normal», que deixa pouco tempo livre, para brincar, estar ao ar livre, com a fa­mília e com os amigos, ou dormir o su­fi­ci­ente. Uma média in­ti­ma­mente li­gada a ou­tros dois factos: o de 41 horas se­ma­nais ser quanto a mai­oria dos tra­ba­lha­dores por conta de ou­trém tra­ba­lhou em 2021, e o de 1 mi­lhão e 800 mil tra­ba­lha­dores, 44% do total, tra­ba­lhar por turnos, à noite ou aos fins de se­mana.

Afinal, como os fi­lhos brincam re­vela muito de como os pais tra­ba­lham em Por­tugal.

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