Margarida Botelho
A Escola Superior de Educação de Coimbra, o Instituto de Apoio à Criança e o site Estrelas e Ouriços realizaram, pela segunda vez, um inquérito a pais sobre a forma como as crianças até aos dez anos brincam. O primeiro tinha sido realizado em 2018 e as conclusões do segundo foram apresentadas no dia 24.
Apesar dos 1600 inquiridos não serem uma representação rigorosa da população – 91,4% são mulheres, 85,5% são casados ou vivem em união de facto, 70% tem habilitações académicas ao nível do ensino superior –, os resultados revelam dados interessantes.
O estudo refere que, apesar de aumentar a consciência de que brincar é essencial ao crescimento harmonioso, há um decréscimo do tempo de brincadeira nos últimos quatro anos, e os pais inquiridos consideram que as crianças não brincam tempo suficiente. Como obstáculos a brincar mais, 35,7% dos pais aponta a «falta de energia devido à elevada carga de trabalho diária», e 29,8% os «horários incompatíveis com o tempo livre das crianças». 70% das crianças brinca normalmente em casa, apenas 9,2% brinca ao ar livre e, desde 2018, passaram a brincar menos com outras crianças, e mais sozinhas e com a família. 30,9% das crianças têm aparelhos electrónicos próprios – tablets ou smartphones – e 39,2% usa videojogos regularmente.
Estes dados comprovam os alertas que têm sido feitos relativamente à vida das crianças, indissociavelmente ligada às condições de trabalho dos pais. Reduzir os horários de trabalho e combater os horários selvagens é determinante para acabar com o facto de, em média, as crianças até aos dez anos estarem 10 horas nas creches e nas escolas. Mais do que uma jornada de trabalho «normal», que deixa pouco tempo livre, para brincar, estar ao ar livre, com a família e com os amigos, ou dormir o suficiente. Uma média intimamente ligada a outros dois factos: o de 41 horas semanais ser quanto a maioria dos trabalhadores por conta de outrém trabalhou em 2021, e o de 1 milhão e 800 mil trabalhadores, 44% do total, trabalhar por turnos, à noite ou aos fins de semana.
Afinal, como os filhos brincam revela muito de como os pais trabalham em Portugal.
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