segunda-feira, 29 de maio de 2023

Na CS: "Vales para cirurgias mais rápidas são recusados por 80% dos utentes"

 

Na CS: "Vales para cirurgias mais rápidas são recusados por 80% dos utentes"

https://www.dn.pt/sociedade/vales-para-cirurgias-mais-rapidas-sao-recusados-por-80-dos-utentes-16144364.html

Vales para cirurgias mais rápidas são recusados por 80% dos utentes

Medida foi criada em 2004 para limpar listas de espera e garantir respostas em tempo adequado. O Estado convencionou acordos com hospitais privados e sociais, mas os resultados estão aquém do esperado. Ministério da Saúde está a trabalhar para melhorar o vale cirurgia e como este funciona.

Maria e Filipe, de 57 anos e 80, respetivamente, são utentes de um hospital central na cidade de Lisboa do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não se conhecem, mas em março ambos receberam uma carta do SIGIC (Siste- ma Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia) com um vale-cirurgia, para poderem resolver o seu problema de saúde em unidades dos setores privado ou social. O objetivo deste vale é garantir aos utentes que não ficam em lista de espera mais do que o tempo adequado, na maioria dos casos 180 dias, mas ambos tiveram de recusar o vale. Não são os únicos. Só no ano passado, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) quase 80% dos vales emitidos foram recusados.

Os motivos de Maria e Felipe são também comuns às recusas de outros doentes: a distância a que ficavam as unidades onde poderiam ser intervencionados. E, embora ambos tenham patologias diferentes, as unidades indicadas eram praticamente as mesmas, no norte e centro do país. O Estado apoia o custo do transporte do doente, mas, na maioria dos casos, tal como Maria e Filipe, precisavam de ir acompanhados. "Não é só o tempo para a cirurgia, é preciso contar também com o tempo a que se leva a fazer os exames para a cirurgia e depois o controlo pós-cirurgia e isto representa muitas despesas", argumenta Filipe Sousa, que depois da recusa voltou a integrar uma lista de espera com 141 homens à sua frente. Maria voltou para uma lista com 570 mulheres à sua frente.

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, reconhece que "como princípio e garante do acesso aos cuidados, o vale-cirurgia faz sentido, mas pode ser melhorado", embora, na sua opinião, "o ideal é que o doente seja tratado na unidade onde é acompanhado". O Ministério da Saúde respondeu ao DN que esta e outras medidas estão a ser equacionadas e avaliadas para se poder melhorar o sistema.

A verdade é que o vale-cirurgia, criado em 2004, é cada vez mais recusado pelos utentes e, quando é aceite e realizado, custa ao Estado muitos milhões de euros.

De acordo com os dados disponibilizados ao DN pela ACSS, entidade que gere o SIGIC, em 2022 foram emitidos 165 079 vales, mas só 21% dos utentes os aceitaram. Ou seja, cerca de 80% recusaram. Em 2021, foram emitidos menos vales (156 264), mas 23% foram aceites. Em 2020 e 2019 o número de vales foi muito superior e a percentagem de aceitação muito menor (ver gráficos).

publicado por usmt 

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