E se a PT ainda fosse pública?
Ainda pouco se sabe sobre o que levou à detenção ou afastamento de vários indivíduos que tiveram, ou ainda têm, altas responsabilidades na Altice Portugal, empresa que, pertencendo à multinacional francesa Altice, é aquilo que resta da anterior Portugal Telecom - PT, entretanto privatizada.
O alegado esquema envolve, no fundamental, duas componentes: a venda de património da empresa abaixo do preço de mercado, para ser revendido com vantagens para alguém; e luvas arrecadadas junto de fornecedores. Ao todo, podemos estar a falar em centenas de milhões de euros, que não só lesaram a empresa, como o próprio Estado, por fuga aos impostos. Veremos o que as autoridades irão apurar, sem os costumeiros julgamentos na praça pública. Centremo-nos antes, no maior crime cometido na história da PT: a privatização daquela que já foi a maior empresa do País e a mais avançada no plano tecnológico.
A entrega da PT ao capital estrangeiro, que culminou com o fim das golden shares durante o Pacto de Agressão das troicas, foi executada em diferentes fases por governos do PS e PSD/CDS. Privatização realizada em nome da abertura da nossa economia, da descida dos preços, do favorecimento dos consumidores. Vários anos volvidos, a vida confirmou o embuste de tais promessas.
O País trocou centenas de milhões de euros que arrecadava, em lucros e impostos que a PT pagava ao Estado, pela saída para o estrangeiro de centenas de milhões de euros em dividendos e em esquemas de fuga e elisão fiscal. O País perdeu capacidade de investigação e desenvolvimento tecnológico, em troca de uma posição subalterna perante outras multinacionais e os interesses do imperialismo (veja-se as últimas decisões em torno do 5G). O País perdeu a capacidade de regular e fixar os preços das tarifas, numa fase de transição digital absolutamente crucial, e de realizar investimentos capazes de garantir a cobertura, em condições de igualdade, de todo o território nacional, para se conformar com a cartelização dos preços nas telecomunicações e com zonas brancas que continuam a existir.
Se a PT ainda fosse pública, não faltariam por aí as vozes do costume, a gritar VERGONHA, a exigir que o Estado se desfizesse daquilo que demorou tantos anos a construir. Pois é… mas os resultados estão à vista!
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