Sobre o funcionamento das URGÊNCIAS HOSPITALARES
Duas da manhã, a hora mais caótica nas urgências de um hospital, sobretudo aos fins de semana, conta Cidália Martins, 57 anos, enfermeira há 31 anos. "Chegam os alcoolizados, os desorganizados, as quedas, as confusões da noite... é um turno que normalmente é para esquecer."
Um terço já está concluído e esta é a sua hora de preferência, por oposição aos inícios de turno, "as piores fases". Pelas duas da manhã não costumam aparecer os pacientes que recorrem às urgências desnecessariamente (só para obter uma receita, por exemplo). São quadros clínicos mais graves que exigem mais atenção na execução do que cuidado na forma de tratamento. Cidália, enfermeira chefe, deixa a amabilidade de lado e foca a atenção na parte técnica: "O profissional neste momento é apenas o profissional."
Durante o dia, existem as pessoas que não têm médico de família e recorrem aos serviços em busca de receitas, quando deveriam procurar o atendimento adequado: "Ficam horas à espera e começam a ficar irritadíssimas, desorganizando toda a atmosfera hospitalar." Também há os que exigem uma atenção especial (geralmente idosos). Os enfermeiros entram em cena: nos médicos não há tempo ou paciência para os ouvir.
Existem também os inconformados: "O paciente de hoje é uma pessoa exigente, arrogante e autoritária, impõe aquilo que os profissionais não conseguem dar". Mais difícil que tratar doentes em estado grave é lidar com pessoas mal-educadas, que não compreendem o lado dos profissionais. "Já tirei sangue, porque é que ainda estou cá?" é a típica frase de um destes utentes. "As análises demoram sempre duas horas, aquela espera que as pessoas também não entendem, aquilo não é carregar num botão e já está, há tempos de reatividade." ... ...
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Testemunhos de enfermeira (DN 21.7.2023)
https://www.dn.pt/sociedade/2h-somos-reconhecidos-so-em-alturas-de-catastrofe-porque-somos-os-bonzinhos-da-classe-da-saude-16719753.html
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