sábado, 10 de junho de 2023

OPINIÃO: sobre equipamento e tecnologia 5G

 

A grande derrota

Manuel Gouveia

O pro­blema com a pre­sença de tec­no­logia chi­nesa nas redes nos sis­temas de te­le­co­mu­ni­ca­ções não tem nada a ver com se­gu­rança e tem tudo a ver com o facto de os EUA terem per­dido a ca­pa­ci­dade de com­petir com a eco­nomia chi­nesa se­guindo as re­gras, es­critas por eles pró­prios, da livre con­cor­rência e da su­pe­ri­o­ri­dade do mer­cado de que a OMC já foi guardiã.

É uma guerra eco­nó­mica e co­mer­cial para a qual é ne­ces­sário es­calar o nível de con­fron­tação mun­dial para per­mitir er­guer bar­reiras – as mi­lhares de san­ções – que pro­tejam a de­bi­li­tada eco­nomia oci­dental.

Pa­ra­le­la­mente, o im­pe­ri­a­lismo aprova leis como «a lei contra a in­flação» dos EUA, que ba­si­ca­mente ofe­rece 200 mil mi­lhões de euros para que em­presas se des­lo­quem para os EUA. Uma lei que afronta os dogmas da es­cola de Chi­cago com que os EUA der­retem as me­ninges dos que­ques li­be­rais, e que em Por­tugal está a con­se­guir que em­presas como a EDP e a Galp des­viem ainda mais in­ves­ti­mento para o ex­te­rior. Ao mesmo tempo que o fun­ci­o­na­mento con­tínuo da má­quina de im­primir dó­lares cria uma das bases para esse au­mento da in­flação.

O Go­verno por­tu­guês já cedeu às pres­sões e ame­aças, bem di­rectas e pú­blicas, dos EUA sobre a pre­sença de em­presas chi­nesas na rede de 5G. Uma me­dida que po­derá custar-nos (além de mais um pe­daço de so­be­rania e do auto-res­peito pá­trio e de uma di­ver­si­fi­cação das nossas re­la­ções co­mer­ciais que só nos be­ne­ficia) mais de mil mi­lhões de euros para subs­ti­tuir com­po­nentes chi­neses já ins­ta­lados – me­lhores e mais ba­ratos – por uma tec­no­logia ame­ri­cana pior e mais cara. Co­lo­cando-nos ainda na de­pen­dência de um único for­ne­cedor para o fu­turo, como re­co­menda a car­tilha ne­o­co­lo­nial.

A es­tra­tégia de chan­tagem e ameaça dos EUA é mais uma vez re­com­pen­sada. Uma das causas da vi­tória da China é que esta não trata assim os seus par­ceiros. Mas os EUA não têm par­ceiros, só la­caios. E por falar em la­caios dos EUA, a Co­missão Eu­ro­peia já elo­giou a de­cisão do Go­verno por­tu­guês.

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