sábado, 26 de janeiro de 2013

Todas as lutas contam (325) - CALDAS DA RAINHA

Decisões sobre reorganização hospitalar e Hospital Termal têm de passar pela sociedade civil e pela opinião dos especialistas
Publicado a 26 de Janeiro de 2013 . (Gazeta das Caldas)                    
 
 
O resumo das intervenções realizadas durante o congresso “Os cuidados de saúde na Região Oeste”, que se realizou no CCC das Caldas a 18 e 19 de Janeiro, deverá resultar num documento a entregar ao Ministério da Saúde, para que a tutela possa tomar decisões mais informadas sobre a reorganização hospitalar no Oeste e em relação ao Hospital Termal.
Durante o sábado, dia 19, várias intervenções dos especialistas convidados debruçaram-se sobre estes dois temas, tendo os debates realizados servido também para acrescentar ainda mais informação.
Ao final de 15 horas de “conversa”, António Curado, porta-voz da comissão de utentes que organizou o congresso, estava satisfeito pela forma como um conjunto de cidadãos contribuiu desta forma para a discussão de assuntos tão importantes.
O médico gostaria que mais pessoas tivessem participado nos trabalhos. Só no debate realizado com os deputados, no dia 18, é que se juntaram mais de 130 pessoas. Ao longo de sábado nunca estiveram mais do que 100 participantes no pequeno auditório do CCC.
“Eu tinha a secreta esperança que a determinada altura nem sequer houvesse lugares suficientes para todos os que quisessem assistir, porque estes são assuntos muito importantes para a população, mas isso não aconteceu”, comentou António Curado.
Na sua opinião, ficou bem patente que a reorganização hospitalar “deve ser feita com senso”. Houve críticas bem contundentes ao relatório em que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo se está a basear para fazer essa reorganização.
Segundo alguns oradores, não está provado que a criação de um grande centro hospitalar traga benefícios económicos ou de eficiência.
Investimento num hospital novo fica pago em quatro a cinco anos
António Curado salientou a intervenção de Luís Campos, presidente do Conselho Nacional para Qualidade em Saúde e membro da Comissão de Acompanhamento da Reforma Hospitalar, que defende ser economicamente mais rentável construir um novo hospital do que manter pequenos hospitais, como acontece no Oeste.
“Em geral, a construção de um novo hospital custa tanto como o orçamento de um ano de um hospital a funcionar”, informou. Tendo em conta esse valor, basta perceber que podem existir ganhos de eficiência de mais de 20% com a construção de um novo edifício “para que este investimento esteja pago em quatro ou cinco anos”.
O também director do Serviço de Medicina do Hospital S. Francisco Xavier, referiu ainda que “os hospitais têm que ter escala”. O recomendado é que um hospital de agudos tenha pelo menos 200 camas. “Os ganhos maiores de eficiência situam-se entre as 200 e as 600 camas”.
Uma das intervenções mais contundentes foi a de Nuno Santa Clara, que já fez parte do conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste Norte, que, entre outras críticas, acusou a tutela de desperdiçar milhares de euros a contratar pessoal em empresa de trabalho temporário, por não ser possível contratar funcionários públicos, tal porque o valor a pagar é bastante superior.
Em relação ao termalismo, António Curado não tem dúvidas, depois do que foi falado durante este congresso “que se se investir no termalismo, há possibilidades de trazer proveitos para a cidade, para a região e para o país”.
Henrique Lopes, presidente da Comissão Sectorial da Saúde do Instituto Português da Qualidade, mostrou-se disponível para participar num processo de certificação das termas portuguesas, a exemplo do que já existe noutros países, tendo convidado os especialistas presentes para criarem uma comissão nesse sentido. O objectivo é que o termalismo seja promovido ao nível internacional.
Na opinião de António Curado, todo o trabalho que as comissões de utentes têm feito “na perspectiva de dar contributos positivos”, fizeram com que o processo sofresse alterações de rumo.
Só lamentou a ausência dos responsáveis pelas decisões neste congresso. “Essas pessoas deveriam estar aqui. Esperemos que lhes cheguem os ecos daquilo que se passou aqui, para que isso os ajude a reflectir e a tomarem melhores decisões”, afirmou.
O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste, Carlos Sá, explicou à Gazeta das Caldas que não esteve presente por motivos pessoais.
Fernando Costa, presidente da câmara das Caldas, só participou no encerramento, tendo sugerido aos organizadores que elaborassem um documento com as conclusões do que se passou no congresso.
Na intervenção que fez o autarca centrou-se na questão do Hospital Termal, não tendo comentado nada sobre a reorganização hospitalar. O próprio edil caldense fez um “mea culpa”, lembrando que todos são responsáveis pelo que não se fez no passado. Apesar de estar a terminar o seu mandato, Fernando Costa voltou a dizer que a autarquia caldense está disponível para contribuir com um 1,5 milhões de euros no âmbito de um projecto de reabilitação co-financiado pela União Europeia “porque essa é a nossa grande prioridade”.
Para António Curado, fica o desafio para os que podem intervir junto do ministro da Saúde para que as decisões sobre as duas questões principais sejam tomadas com toda esta informação. As intervenções mais relevantes vão ser abordadas com mais pormenor na próxima edição da Gazeta das Caldas.

Pedro Antunes

pantunes@gazetacaldas.com

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