Há tempos, numa ocasião em que fui buscar livros ao Correio, pus-me a ver os que ali estavam como eu, de papelinho na mão, à espera. Mulheres, homens, gente de toda a espécie: pareceram-me vazios, lentos, cansados, gastos pela desilusão dos dias. As mulheres, sobretudo, a quem os sonhos falhados tiraram o brilho, a quem a desesperança maltratou. O horror dos casamentos, a pequena tirania cotidiana dos maridos, a quem só pedem que as entendam sem necessidade de palavras. O manso desespero das funcionárias atrás do balcão, os sorrisos delas desprovidos de luz. Sol lá fora nas árvores. Aqui lâmpadas. Envelhecem entre lâmpadas acesas, com sol lá fora. Os psiquiatras engordam à custa das lâmpadas acesas, eles que não vivem melhor. Vendem conformação em lugar de alegria. Adapte-se ao mundo, não peça ao mundo que se adapte a si.
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