sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

OPINIÃO: "É preciso encerrar urgências e outros serviços?"

 OPINIÃO: "É preciso encerrar urgências e outros serviços?"

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por Bernardino Soares

É preciso encerrar urgências e outros serviços?

Seja dizendo que onde há poucas pessoas não pode haver muitos serviços de saúde, seja com o argumento de não estar garantida a segurança dos cuidados a prestar, designadamente nas urgências, o actual governo, tal como anteriores, tem em curso um processo de encerramento de serviços e de concentração de respostas, muitas vezes ocorrendo de forma silenciosa e sem qualquer alarde público.

É uma evidência que a ausência de serviços públicos de proximidade, máximeos de saúdeé uma das principais razões para o abandono dos territórios pelas populações. Inverter a ordem dos factores é uma profunda mistificação. Para além disso, por poucas que sejam, as populações têm direito a aceder de forma adequada aos serviços de saúde.

Por outro lado invoca-se o argumento da segurança da prática clínica como razão para encerrar serviços. No fundo querem convencer-nos de que, na falta de profissionais, o melhor é concentrar serviços. Não se nega que existem limites mínimos para o funcionamento dos serviços, mas o que é preciso para resolver esse problema é garantir a contratação e colocação de mais profissionais.

Correia de Campos encerrou mais de uma dezena e meia de maternidades, por não realizarem pelo menos 1500 partos por ano. Na realidade, a prática necessária aos profissionais de saúde, importante factor de segurança, pode ser obtida por outras formas que não apenas a contabilização dos partos em cada hospital. Mas o que é extraordinário é que esse critério nunca foi aplicado aos blocos de partos dos hospitais privados. Tanto quanto é possível saber (a transparência dos hospitais privados em relação à sua actividade é muitíssimo escassa), provavelmente só três ou quatro dessas unidades realizam mais de 1500 partos por ano, sem que isso desinquiete as mesmas almas que defenderam e decidiram o encerramento das unidades públicas. O que serve para encerrar no público não serve para travar o negócio privado!

Recentemente temos assistido a sistemáticas suspensões das urgências obstétricas de hospitais públicos. Alegadamente não cumprem o número mínimo de especialistas médicos em ginecologia e obstetrícia definido pela Ordem dos Médicos. Porém, um estudo recentemente publicado na revista científica da Ordem dos Médicos revela que o número de médicos especialistas exigidos por esta entidade para o funcionamento das urgências de obstetrícia é o dobro do que se pratica em França e está também bem acima do preconizado pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia o que aponta para a clara possibilidade de encontrar soluções que não passem pelo encerramento.

Escusado será dizer que em relação aos hospitais privados não há nenhum questionamento. De forma ardilosa, os hospitais privados não assumem formalmente terem urgência obstétrica, mas dão essa resposta a partir da urgência geral, em geral com o mínimo de especialistas presentes e em muitos casos apenas em regime de prevenção. Aqui não parece haver preocupações de segurança...

publicado por usmt 

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