quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Actividade do movimento de utentes (65)

Directora executiva do Agrupamento garante que os problemas são “pontuais”
Falta de material no Centro de Saúde de Benavente põe em causa prestação de cuidados de saúde


Faltam materiais no Centro de Saúde de Benavente o que poderá colocar em causa a correcta prestação de cuidados médicos aos utentes que ali se dirigem. O alerta é feito a O MIRANTE pelo presidente da Comissão de Utentes do Concelho de Benavente, Domingos David. A responsável pelo Agrupamento de centros de saúde garante que só foi identificado um caso de escassez de materiais desde Janeiro.

A falta de materiais de tratamento e de alguns fármacos no Centro de Saúde de Benavente poderá colocar em causa a correcta prestação de cuidados de saúde aos utentes que ali se dirigem. O alerta é deixado pelo presidente da Comissão de Utentes do Concelho de Benavente, Domingos David.

“Ainda em Dezembro tivemos conhecimento de um utente que teve de ser transferido aqui do SAP [Serviço de Atendimento Permanente] de Benavente para o Hospital de Santarém para poder levar uma injecção de penicilina porque não havia aqui esse fármaco. Essa injecção saiu bastante cara porque o doente acabou por requisitar um transporte de ambulância para a cidade”, recorda. Além deste episódio vários funcionários garantem que dentro do serviço de saúde faltam com frequência materiais, como compressas, gaze ou luvas.

A directora do Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria – onde se integra a unidade de Benavente - Luísa Portugal, diz desconhecer o assunto mas confirma que no início deste ano faltaram as máscaras para realizar aerossóis.

“Não tenho conhecimento de que essas situações estejam a acontecer, serão pontuais. No final do ano algumas compras sofrem atrasos, mas estamos a planeá-las a três meses. No princípio de Janeiro faltaram as máscaras para os aerossóis, gastámos todo o stock por ser uma época especialmente propícia a gripes e constipações mas estamos atentos a isso”, lamentou.

Sobre a falta de fármacos a responsável garante não ter conhecimento de qualquer caso. “A penicilina não é um medicamento das urgências, é um tipo de medicamento que se vende na farmácia”, ressalvou.

A comissão de utentes insiste que os problemas existem e que as queixas também, deixadas por utentes e funcionários da unidade de saúde. “Normalmente chegam até nós bastantes queixas de utentes mas também de profissionais de saúde, que andam tão indignados que já não suportam mais esta situação e dirigem-se a nós para terem algum conforto e dar escape às suas queixas. Quando fui comandante dos bombeiros em Benavente, há seis anos, tínhamos casos em que éramos obrigados a levar pessoas ao hospital de Vila Franca com uma cabeça partida porque aqui nem tinham agulhas e linha para fazer os pontos”, critica.

A fraca qualidade dos novos materiais que estão a chegar ao centro de saúde é outro motivo de preocupação para a comissão de utentes e para os próprios profissionais de saúde. “O material que aqui é colocado, nomeadamente as luvas para os enfermeiros, são de muito má qualidade. Em cada consulta podiam gastar um par de luvas mas como se rasgam com facilidade têm de gastar duas ou três. Isso não se traduz numa poupança”, ilustra.

Mais caricato ainda são os novos toalhetes para limpar as mãos. “Como a qualidade não é a desejável em vez de secarem as mãos o que acontece é que as pessoas gastam seis ou sete toalhetes para ficar com as mãos limpas, o que é bastante desagradável tanto para o utente como para o profissional de saúde”, critica Domingos David, numa manhã em que os médicos que deveriam ter iniciado o serviço no SAP às 09h00 estavam novamente atrasados, um problema que “se arrasta todos os dias e sem solução à vista”, refere.

A responsável do ACES da Lezíria, Luísa Portugal, diz desconhecer as queixas da fraca qualidade do material. “Nunca ouvi nenhuma queixa mas os nossos funcionários têm o dever de nos dizer se acham que o material não é adequado ou de qualidade reconhecida. A escolha do tipo de produto não é feito por nós (mas sim pela Administração regional de Saúde) mas podemos enviar as nossas considerações a quem de direito para que o assunto possa ser analisado”, defende.

Esta é a segunda vez que a comissão de utentes alerta para o “mau funcionamento do centro de saúde” de Benavente, depois de no final do ano, como O MIRANTE noticiou, ter denunciado que muitos médicos contratados por firmas privadas adormecem durante as consultas depois de passarem a noite a trabalhar.

A comissão garante que vai “continuar a fazer esforços para consciencializar a população para a importância de um bom serviço de saúde” e já tem agendadas várias iniciativas, incluindo um espectáculo solidário com associações do concelho.


Provedoria de Justiça “atenta” ao funcionamento do centro de saúde

A Provedoria de Justiça garante que vai estar “atenta” à forma como o Centro de Saúde de Benavente e o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) estão a funcionar. Depois de um ofício da Comissão de Utentes do Concelho de Benavente a alertar para a falta de funcionalidade da unidade de saúde a provedoria entendeu que as explicações dadas pelos responsáveis do agrupamento são “aceitáveis” para confiar que o serviço irá melhorar no futuro mas mesmo assim a provedoria compromete-se a realizar diligências a breve prazo para determinar se houve, ou não, reais progressos no serviço prestado à população.

Em resposta à Comissão de Utentes a provedoria de Alfredo José de Sousa considera que actualmente se vive “uma insuficiência de recursos humanos especializados” no centro de saúde, o que torna a situação “de especial gravidade”. Actualmente no concelho existem nove mil doentes sem médico de família, 4 500 à espera de uma consulta e as extensões de saúde foram encerradas.


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