Utentes manifestam-se em Lisboa em defesa do Serviço Nacional de Saúde
Promovida pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, centenas de pessoas participaram, dia 19 de Janeiro, em Lisboa, numa acção de protesto e rejeição à política que o Governo está e se prepara para implementar contra os direitos dos utentes e o próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS), cujo objectivo final é a sua total liquidação e privatização.
Da Praça do Saldanha até às instalações do Ministério da Saúde, ouviram-se palavras de ordem como «a Saúde é um direito, sem ela nada feito», «Não e não às taxas moderadoras» e «Somos utentes, não clientes». As faixas e os cartazes, que preencheram, no final, a Avenida João Crisóstomo, reclamavam e davam conta dos problemas das populações. «Arroios defende o SNS», «População de Odivelas exige a reabertura do CATUS até às 24 horas» e «Melhor Saúde em Sintra. Exigimos mais médicos de família», foram algumas das mensagens, direccionadas ao Governo, a que se juntavam muitas outras, como «Para eles [Governo] é tudo negócio», «Pela sua saúde lute!» ou «Não ao encerramento das urgências».
Um dos problemas mais denunciados e criticados pelos utentes foi mesmo o aumento brutal das taxas moderadoras para acesso aos serviços de saúde e aos actos médicos, que são incomportáveis para muitos milhares de famílias e pessoas, e reveladores da insensibilidade humana e social dos sucessivos governos em relação aos direitos e necessidades dos portugueses.
«Mais uma vez estamos aqui para dizer ao ministro da Saúde que a população de Lisboa não aguenta as medidas cada vez mais gravosas, impostas pela troika estrangeira e aumentadas pela troika doméstica, através do memorando de entendimento assinado pelo PS, PSD e CDS», disse um elemento da Comissão de Utentes de Lisboa, que, em nome de todos, disseram «Não» à destruição do SNS».
O protesto contou ainda com a presença da União de Sindicatos de Lisboa (USL), que recordou, perante aquela massa de gente, que o direito ao SNS público, universal e gratuito «foi uma das maiores conquistas do povo português, decorrente da Revolução de Abril», o que levou a que muitos cidadãos «pudessem ter acesso a cuidados de saúde». «São estes direitos que estão a ser postos em causa e que estão a contribuir para promover a doença, em vez de a prevenir», criticou a União de Sindicatos, que ainda falou do «acordo vergonhoso» celebrado pelas confederações patronais com a UGT, «o maior atentado aos direitos dos trabalhadores» e «um retrocesso social sem precedentes nas relações de trabalho em Portugal, que põem em causa a saúde dos trabalhadores». «É um belíssimo acordo para o patronato. É inaceitável para os trabalhadores e para as suas famílias, porque acentua a exploração, aprofunda as desigualdades e o empobrecimento», denúncia a USL.
O último a intervir foi mesmo Carlos Braga, Coordenador do MUSP, que defendeu um SNS «forte e com capacidade de resposta às necessidades das populações» e criticou o «encerramento de serviços, das extensões de saúde às maternidades e urgências hospitalares, a redução dos seus horários de funcionamento, a falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais». De igual forma, manifestou-se contra os «escandalosos e brutais aumentos dos medicamentos, das taxas moderadoras e dos actos médicos prestados».
«Todas estas situações, a par de outras, distanciam cada vez mais, em muitas zonas do território nacional, os utentes dos serviços, aumentam as dificuldades de acesso a muitos milhares de famílias e de utentes, as listas de espera para consultas e cirurgias, contribuem para que haja cada vez mais portugueses sem médico de família», acusou Carlos Braga, alertando: «O que o Governo quer mesmo fazer é um SNS para ricos e outro para os pobres».
.
Sem comentários:
Enviar um comentário