Privatizar os CTT Crime de lesa pátria
A privatização de uma instituição histórica como os CTT só pode ser devida a uma insensibilidade histórica e antipatriótica, um instinto predador inqualificável, que faz tábua rasa de todos os valores que afirmam Portugal como uma nação independente.
A privatização de uma instituição histórica como os CTT só pode ser devida a uma insensibilidade histórica e antipatriótica, um instinto predador inqualificável, que faz tábua rasa de todos os valores que afirmam Portugal como uma nação independente. A história dos Correios em Portugal está indelevelmente ligada à nossa história tendo sofrido ao longo dos séculos as mesmas vicissitudes e as mesmas glórias. A fundação e estabelecimento dos correios nos princípios do século XVI, surge numa altura em que uma larga rede de comunicações internacionais se tinha estabelecido, tendo como consequência uma multiplicidade de relações políticas e comerciais, que coloca o serviço de correios sob o princípio de utilidade pública. Nesse sentido, Dom Manuel I em 1520 confere a Luis Homem, cavaleiro de sua casa, o ofício de Correio-Mor, produzindo um alvará tido como o mais antigo documento relativo ao estabelecimento dos correios públicos em Portugal. A história dos Correios é longa e apaixonante, mas sempre ligada aos grandes acontecimentos históricos que revolucionaram a Europa ao longo dos séculos. Foi também alvo de cobiças e estrangulamentos que suportou estoicamente. Foi também um elo de ligação entre as várias nações da Europa, estabelecendo com algumas delas acordos postais, que refletiam o grau de ligação política que mantínhamos com essas nações. É de relevo aludirmos aos grandes vultos que orientaram o serviço postal, amplamente reconhecidos pelas administrações estrangeiras, na medida em que colaboraram ativamente nas normas que levariam à União Postal Universal, base da convenção de Berna a que logicamente pertencemos. Registamos os nomes do Conselheiro Lessa, do Diretor Guilhermino Augusto de Barros, que no seu relatório de 1877 analisa a situação dos Correios em Portugal, na véspera de grandes mudanças e finalmente do grande historiador dos correios Godofredo Ferreira. Não é possível privatizar uma instituição nacional como os CTT, pois que ainda não seja (ou será?) à partida, inconstitucional, configura um crime de lesa pátria, que deve merecer a maior repulsa. O fecho pontual de algumas estações dos correios será, admito eu, uma questão de marketing comercial e financeiro. Tem pouco que ver com a questão de fundo. Que assenta sobre a vergonhosa atitude de privatizarem uma instituição nacional que faz parte integrante da nossa História.
* Autor de História da tecnologia postal seculo XIX e História dos tratados postais assinados por Portugal. (Edições do Museu das Comunicações)
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